Pensar Contábil, Vol. 26, No 89 (2024)

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Modelos de estimação do valor justo de cana-de-açúcar: um estudo de conformidade da informação contábil

Emerson de Souza Moura, Ricardo Luiz Menezes da Silva, Paula Carolina Ciampaglia Nardi

Resumo


Sugarcane fair value estimation models: an accounting information
compliance study

RESUMO
A literatura de ativos biológicos nos revela uma dificuldade
em estimar o valor justo na ausência de mercado ativo, o que
pode reduzir a confiabilidade da informação contábil. Esse cenário
de incerteza foi usado como catalisador para alteração no
CPC 29, voltada para as plantas portadoras. Contudo, alguns ativos
biológicos sem mercado ativo e, com ciclo de vida menor, ainda
são mensurados a valor justo, por meio dos mesmos modelos
de avaliação. O objetivo desse trabalho é estudar os modelos
usados pelas usinas sucroalcooleiras para mensuração da cana-
-de-açúcar, e verificar se estão seguindo a norma ao contabilizar
e evidenciar a cana em suas demonstrações contábeis. Ainda se
pretende verificar se, as premissas utilizadas para o cálculo do
valor justo dos ativos biológicos são comparáveis entre usinas, e
se, as informações da mensuração estão nas notas explicativas.
Para atingir este objetivo, a pesquisa analisou 13 demonstrações
financeiras de empresas do setor sucroalcooleiro, verificando as
premissas utilizadas para cálculo do valor justo. Os resultados indicam
que a quantidade de premissas utilizadas nos modelos de
fluxo de caixa descontado é diferente entre empresas, o que pode
comprometer a comparabilidade da informação, já que não há uniformidade na quantidade de premissas evidenciadas. As três
premissas mais divulgadas são: açúcar total recuperável (ATR),
produção estimada e taxa de desconto. Conclui-se que a divulgação
é baixa, mesmo restringindo a análise para o setor Sucroalcooleiro,
o que abre a oportunidade de discussão a respeito
de orientações mais específicas do regulador para mensurar os
ativos biológicos

Palavras-chave: ativo biológico; valor justo; cana-de-açúcar.

 

ABSTRACT
The literature on biological assets reveals a difficulty in estimating
fair value in the absence of an active market, which can
reduce the reliability of the accounting information. This scenario
of uncertainty was used as a catalyst for the change in CPC 29,
focused on bearer plants. However, some biological assets without
an active market and with a shorter life cycle are still measured
at fair value, using the same valuation models. The objective
of this work is to study the models used by sugar mills to measure
sugarcane, and to verify whether they are following the standard
when accounting for and evidencing sugarcane in their financial
statements. It also intends to verify if the assumptions used to calculate
the fair value of biological assets are comparable between
mills, and if the measurement information is in the explanatory
notes. To achieve this objective, the research analyzed 13 financial
statements of companies from the sugar and ethanol sector,
checking the assumptions used to calculate the fair value. The
results indicate that the number of assumptions used in the discounted
cash flow models is different among companies, which
can compromise the comparability of the information, since there
is no uniformity in the number of assumptions disclosed. The
three most widely disclosed assumptions are: total recoverable
sugar (ATR), estimated production, and discount rate. We conclude
that disclosure is low even restricting the analysis to the sugar
and ethanol sector, which opens the opportunity for discussion
regarding more specific guidelines from the regulator to measure
biological assets.

Keywords: biological asset; fair value; sugarcane.

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